Entrando no Ônibus Brasil, noto uma excessiva empolgação de parte dos busólogos com os ônibus de piso baixo que Niterói anda recebendo. Lendo os comentários, percebe-se que para eles, Niterói, só por causa desses ônibus diferentes, está tendo qualidade no transporte. Não está.
É tradicional para os brasileiros confundir consumismo e espetáculo com qualidade de vida. Na verdade, como ando falando em vários blogues, os brasileiros não ligam muito para qualidade de vida. Para quem tem uma antena parabólica de última geração na parede de sua casa, não importa se o esgoto passa bem na frente da porta de entrada.
Adaptando à busologia, os busólogos querem ônibus arrojado, bonito e de configuração avançada. Fingem que os ônibus de piso baixo significam qualidade. Até significam, mas não para eles que podem subir e descer escadas e sim para pessoas com dificuldades para isso. Fingindo cidadania, eles querem na verdade é curtir um ônibus avançado.
Não estou ofendendo nenhum busólogo. Apenas alertando sobre um defeito que vários deles demonstram ter e nunca assumem. Assumir um defeito é o primeiro passo para corrigi-lo.
Niterói tem problemas que carros de piso baixo não resolvem
Mas falando sobre Niterói, para eles o transporte melhorou por si só com essas aquisições. Imaturidade. Há muito o que fazer.
Quando eu comento isso, fica a impressão de que não gostei da aquisição dos ônibus de piso baixo. pelo contrário, adorei. Até porque eles tem motorização traseira, e desde criança sempre preferi ônibus com motorização traseira (que quando adulto eu descobri ser realmente o ideal, tecnicamente falando - motor dianteiro é para caminhão). O que ocorre é que não me iludo com a aquisição desses veículos, que resolve apenas um aspecto da mobilidade urbana. E os outros aspectos, como se resolve?
Prefeito pode cancelar a verdadeira melhoria no transporte niteroiense
A gestão que deixará a prefeitura no início de 2013 havia feito um belo plano de transporte para Niterói. Esse plano seria uma tentativa de melhorar não somente o serviço de ônibus como o trânsito caótico que virou tradição na cidade onde eu moro.
Seria o seguinte: seriam 5 terminais novos espalhados pela cidade. A maioria das linhas teria os itinerários cortados, abandonando o centro da cidade e passando a finalizar suas linhas nesses terminais, que teriam baldeação (transferência de um ônibus a outro) gratuita, como ocorre no terminal da Estação Mussurunga, em Salvador, onde morei por muitos anos. Do terminal, sairiam outras linhas destinadas ao centro, em número menor dos que já existem.
Essa atitude, além de melhorar o trânsito, eliminando com os comuns engarrafamentos no Terminal João Goulart, o principal da cidade, resolveria, com a baldeação gratuita, com o que eu considerava o pior defeito do sistema de ônibus niteroiense: a escassez de linhas bairro-bairro. Em certos bairros há a necessidade de se pagar dois ônibus para se deslocar a outro, como por exemplo, do Barreto a Piratininga.
Mas a gestão que toma posse no início do ano que vem começa a dar sinais de que vai desistir desses terminais. O único que estaria em construção, o do Largo da Batalha, virou um depósito de entulho de outras obras. Os outros nem começaram a ser construídos. Nenhum sinal sequer de início das obras de reforma do João Goulart - que passaria a integrar outros modais como barcas e o vindouro metrô até Itaboraí, este sim confirmado pela próxima gestão.
Parte operacional não interessa para maioria dos busólogos
Mas isso não é do interesse da maioria dos busólogos. Muitos não andam de ônibus, fazendo deste tipo de transporte apenas objeto de admiração. Vários destes nem moram em Niterói, desconhecendo a realidade deste município. Sobre os engarrafamentos na cidade, muitos pensam em ser um "mal necessário" das grandes cidades. Para eles, legal mesmo é ter carro lindo, piso baixo, articulado, motorização traseira e ar condicionado. Um carro possante e belo para admirar feito crianças em um belo parque.
Isso é que tem dado origem a um monte de brigas entre os busólogos cariocas, pois quando o assunto entra no lado operacional (como as linhas estão sendo servidas no cotidiano), subestimado pela maioria, opiniões divergentes começam a aparecer, já que ônibus bonito e possante não resolve a maioria dos aspectos da parte operacional.
Por isso que eles se zangam com minhas críticas, pois não sabem que cobro melhorias na parte operacional, que é o que realmente conta no cotidiano, embora não seja visível a pontos de vista distantes. Não é algo que encha os olhos como um ônibus arrojado. Até porque para a população comum, não interessa se o veículo é ou não arrojado, interessa que ele sirva bem. E isso, não parece lindo aos olhos de quem espera melhorias através da beleza e da potência.
Espero que o prefeito volte atrás e retome a construção dos terminais. Sem eles, o transporte de Niterói ficará como está. E não há ônibus lindo e possante que possa dar jeito nos crescentes problemas de mobilidade que os niteroienses estão cansados de ver.